<< Há alguns anos convidei um oficial do exército japonês, que estava estudando nos Estados Unidos, a assistir um serviço religioso que eu ia dirigir. Terminado o serviço, quando nos dirigiamos para casa, ele me perguntou: - Qual é o ramo do Cristianismo representado por sua igreja? - Nós somos judeus - respondi - adeptos da fé judaica. Meu amigo japonês ficou intrigado. Ele era xintoísta, mas lera a Bíblia cristã. - Mas o que são os judeus? - perguntou o oficial japonês. - O senhor se lembra dos israelitas de que fala a Bíblia: Abraão, Moisés e Josué? - Lembro-me. - Pois bem, nós somos aqueles israelitas. O Major Nishi exclamou no auge da estupefação: - O quê?! Aquela gente ainda existe?! >>
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O Rabino Morris Kertzer, que mui gentilmente nos permitiu editar esta condensação do seu livro What is a Jew? começa-o com esse episódio pitoresco.
Embora entre nós a presença tangível de uma comunidade judaica exclua a possibilidade de semelhante diálogo, tomamos a liberdade de afirmar, sem receio de cair em exagero, que existe um desconhecimento generalizado do que são os judeus, suas crenças e seus postulados de fé e conduta. Iremos mais longe: estamos convencidos de que esse desconhecimento caracteriza não só a grande massa de não-judeus, como também aos próprios judeus em proporção nada desprezível. Por isso, pareceu-nos cabível e necessário oferecer um conjunto de informações sobre o tema poucas vezes abordado: O que é o Judaísmo?
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Não há dúvida de que uma tradição de quatro milênios, tão rica de implicações em toda a civilização ocidental, dificilmente poderia ser resumida nas poucas páginas de um livrinho sem que se arriscasse melindrar a magnitude de tamanha herança. Desejamos deixar bem patente, por essa razão, que a nossa intenção foi a de apresentar uma introdução sumária, como que uma vista panorâmica. Segundo realçou o próprio autor, não se trata de traçar uma exposição filosófica e teórica do Judaísmo, mas apenas um relato de suas práticas e crenças, sob forma de diálogo vivo, que lembrasse uma conversação casual e espontânea.
Considerando-se que o Judaísmo está em constante processo de criação, nem sempre se logra uma única interpretação cabal em relação aos elementos de sua complexa bagagem histórica e doutrinária. Torna-se praticamente impossível, portanto, fazer sua apresentação sem que se exponha a objeções e controvérsias.
Assim sendo, convém deixar bem claro que não temos o menor propósito de encetar polêmicas, como também não nos apegamos a nenhuma corrente determinada de interpretação. Sentir-nos-íamos altamente recompensados - e com isso o nosso esforço encontraria sua plena justificação - se este modesto trabalho conseguisse despertar curiosidade para futuras leituras, mais específicas e profundas, e lograsse lançar um pouco de luz, pelo menos em parte, sobre certas impressões errôneas no que se refere aos judeus, suas crenças e seus costumes.
OS EDITORES
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